Aqui em casa, temos uma moringa de barro desgastada pelo uso. Há anos, colocamos nela água filtrada, que em pouco tempo fica numa temperatura ideal para beber. É impressionante como algo tão simples pode ser tão útil no nosso dia a dia, mantendo a água fresca sem a necessidade de qualquer tecnologia moderna. Cada vez que encho a moringa, sou lembrado da sua durabilidade e utilidade, apesar de sua aparência modesta e o desgaste dos anos.
Na segunda carta de Paulo aos Coríntios, encontramos uma das metáforas mais marcantes do Apóstolo: “Temos, porém, este tesouro em vasos de barro, para que se veja que a excelência do poder provém de Deus, não de nós.”. Este tesouro é o conhecimento e a revelação do Evangelho do reino de Deus em nós. A comparação que Paulo faz com vasos de barro é frequentemente entendida como uma referência à nossa fragilidade. De fato, somos seres frágeis, passageiros e sujeitos ao erro. No entanto, uma vez chamados por Cristo Jesus, apesar dessa condição, temos dentro de nós o Evangelho e a presença santa do Espírito Santo.
Contudo, a ênfase que gostaria de dar aqui não é tanto sobre a fragilidade do vaso, mas sobre sua ordinariedade. No primeiro século, um vaso de barro, como a moringa, era algo extremamente comum, utilizado para várias finalidades, desde as mais nobres, como conter um vinho caro, até as mais desonrosas, como ser usado para higiene pessoal. Comparando com os dias de hoje, seria como um pote de plástico que usamos para guardar restos de comida na geladeira ou uma jarra de plástico para água ou suco. Esses itens são simples, comuns e nada especiais, mas são extremamente úteis.
Se pensarmos nesses recipientes comuns, veremos que eles têm três utilidades básicas: contenção – guardam algo que queremos ou precisamos preservar; transporte – permitem transportar aquilo que está contido neles; serviço – nos servem, seja despejando suco em um copo ou comida em uma frigideira para aquecer. Assim como esses recipientes, nós, cristãos, contemos o Evangelho apesar de nossa fragilidade e ordinariedade. Além disso, temos a capacidade de transportar o Evangelho a pessoas que ainda não o conhecem, a países onde ele não é conhecido, a novas épocas e gerações, seja presencialmente ou por canais midiáticos. Mais do que isso, temos a capacidade de servir o Evangelho a essas pessoas, nesses novos lugares e através dos tempos.
Quando Paulo fala que temos este tesouro em vasos de barro, ele está falando de si mesmo em primeira instância. Ele, com toda a sua fragilidade e ordinariedade, continha, transportava e servia o Evangelho às pessoas nas novas igrejas, novas cidades e contextos por onde ele ia. Este tesouro não é para ser simplesmente guardado e protegido, pois não somos cofres, somos vasos. A mensagem de Paulo é precisa e completa. Assim como o apóstolo, somos chamados a conter, transportar e comunicar o Evangelho. Assim, cumprimos nossa missão de vasos de barro, ordinários, mas extraordinariamente importantes no plano de Deus. Assim como a moringa daqui de casa, devemos nos desgastar no exercício dessa função, sempre conscientes do privilégio, apesar de nossa ordinariedade.
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