Perto do Reino

Em um mundo que clama por justiça e igualdade, a regra de ouro ressoa como um eco de simplicidade e pureza: “Faça aos outros o que gostaria que fizessem a você.” Este princípio, presente em inúmeras culturas e religiões, serve como um farol moral universal. De Confúcio a Kant, de culturas antigas aos modernos sistemas éticos, esse princípio moldou muitas de nossas interações sociais e legados éticos. É um testemunho do que há de mais fundamental na humanidade: a empatia e o respeito mútuo.

Em um dos diálogos mais reveladores do Novo Testamento, um escriba se aproxima de Jesus para testá-lo, não apenas com uma pergunta qualquer, mas com uma que toca o coração da lei mosaica:

“— Qual é o principal de todos os mandamentos?” Jesus respondeu: “— O principal é: ‘Escute, ó Israel, o Senhor, nosso Deus, é o único Senhor! Ame o Senhor, seu Deus, de todo o seu coração, de toda a sua alma, de todo o seu entendimento e com toda a sua força.’ O segundo é: ‘Ame o seu próximo como você ama a si mesmo.’ Não há outro mandamento maior do que estes.” – Marcos 12:28-31

Quando ouve a resposta de Jesus, que une o amor a Deus e ao próximo como a essência da Torá, o escriba concorda entusiasticamente, demonstrando uma compreensão notável que vai além do conhecimento legalista que se esperava. Apesar de reconhecer a resposta correta do escriba, Jesus oferece uma observação que é tanto um elogio quanto uma revelação sobre a insuficiência desse conhecimento. “Você não está longe do Reino de Deus,” diz Jesus. Essas palavras, ao mesmo tempo que validam o entendimento do escriba, também destacam uma verdade crucial — estar próximo não é o mesmo que pertencer.

Este diálogo é como um espelho de nossa própria condição. Muitos de nós conhecem e admiram a Regra de Ouro, e muitos de nós conhecemos os mandamentos, mas, como o escriba, podemos descobrir que estamos apenas “próximos” do Reino de Deus, não firmemente dentro dele. A insuficiência do escriba reflete nossa própria insuficiência — uma lacuna que não pode ser preenchida por conhecimento ou moralidade. Podemos chegar perto, mas não podemos entrar.

O encontro entre Jesus e o escriba nos desafia a refletir sobre nossa própria posição diante de Deus. Conhecer os mandamentos e reconhecer sua importância é fundamental, mas não é suficiente. Cristo encerra seu diálogo com o escriba exatamente onde a proclamação deve começar; na nossa insuficiência. Jesus não apenas reafirmou a regra de ouro, mas viveu uma vida que exemplificou perfeitamente o amor sacrificial e incondicional — um amor que nós, em nossos próprios esforços, jamais conseguiríamos praticar.

Através de sua vida, morte e ressurreição, Jesus não apenas mostra o caminho, mas se torna o caminho pelo qual podemos transcender nossa perpétua insuficiência. Falar de Cristo, portanto, significa reconhecer que nossa capacidade de amar e servir verdadeiramente só é possível através de quem Ele é. Isso não diminui a regra de ouro; pelo contrário, comprova sua veracidade com nossa insuficiência e com a suficiência do Filho de Deus em praticá-la.

Os mandamentos colocaram o escriba perto, a regra de ouro pode nos colocar diante dos portões do Reino, mas só o reconhecimento da suficiência de Cristo pode nos levar para dentro.


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Um comentário em “Perto do Reino

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  1. Sobre a regra de ouro, acho interessante a pequena mudança feita por Jesus que faz toda a diferença. Em muitas outras religiões a regra é escrita com a ideia de não fazer para o outro o mal que não queremos que façam contra nós. Jesus mudou um pouco a ideia e disse que precisamos fazer para o outro o bem que queremos para nós. É sutil, mas revolucionário. Na primeira forma, basta sermos passivos e não causar o mal que está tudo bem. Com Jesus, temos que ser ativamente promotores do bem.

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