O dia do choro

Hoje foi o dia do choro. Dirigindo pela manhã, passei por um rapaz que chorava sem nenhum pudor, sentado numa calçada da Rua Sampainho. Alguns quilômetros à frente, ouvi uma mulher cantando uma música infantil dentro de um carro ao lado. Ao parar em um semáforo da Avenida Brasil, reparei que ela chorava enquanto cantava para a filha que estava no banco de trás. Cheguei ao meu destino e recebi uma mensagem de minha esposa, com um vídeo, dizendo que havia chorado ao assisti-lo. À noite, fui eu quem chorou ao assistir a um filme com a história verídica de um mauritano que foi injustamente preso por 15 anos.

Não sei por que aquela mãe chorava ao cantar para sua filha, nem porque o rapaz chorava compulsivamente numa sarjeta. Seria por luto? Traição? Desespero? Alegria incontida? Alívio por um diagnóstico favorável? Posso dizer que conheço a causa do meu choro ou do choro de minha esposa, mas, no fundo, não sei ao certo. O fato é que, para o bem ou para o mal, o choro é o fim da racionalização; é o lugar onde a linguagem não encontra espaço. O pranto brota dessa rocha da racionalidade que se partiu ao meio. O pranto é pré-linguagem, é a prova de que parte de nós nem sabe o que é a razão.

Por que você tem chorado? O que tem te levado ao lugar da pré-linguagem? Perda? Angústia? Prazer? O que tem exposto o fim da sua razão?

Ao provar o mistério do choro, ouvimos ecos de uma busca ancestral, uma sede que apenas o divino pode saciar. Assim como está escrito no Salmo 42: “Como a corça anseia por águas correntes, assim minha alma anseia por ti, ó Deus. Minha alma tem sede de Deus, do Deus vivo…”. Neste limite da razão, onde palavras falham e apenas lágrimas falam, é onde nossa alma clama por uma presença que transcende nossa compreensão. Que, em meio às nossas lágrimas, possamos encontrar não apenas o fim da razão, mas o início de uma profunda comunhão com Aquele que transcende a linguagem, mas se revela por meio dela em favor de nós.


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