Separei algumas horas para estudar em uma padaria. Depois de alguns minutos, deparei-me com este trecho de um versículo da Carta aos Colossenses estampado na parede: “Tudo o que fizerem, façam de todo o coração…”. Automaticamente, lembrei-me do melhor livro que li durante este semestre do curso de teologia: “O Texto Primeiro” de Abraham Kuruvilla.
No final de um dos capítulos, o autor introduz sua proposta dos níveis da teologia em uma escala que vai da especificidade máxima até a generalização máxima da interpretação. Nessa proposta, o nível mais baixo seria levar aos ouvintes a interpretação mais específica possível, e o nível mais alto, levar aos ouvintes a interpretação mais genérica possível da perícope.
A partir dessa escala, o autor recomenda buscar o nível médio de interpretação, que parece ser um equilíbrio ideal entre uma interpretação específica demais e, portanto, com pouca aplicabilidade para a maioria das pessoas, e uma interpretação genérica demais que atenue exageradamente a intenção trans-histórica do autor do livro sagrado. Segundo o autor, isso é um caminho da especificidade concreta do texto, que passa pela Teologia e volta à especificidade da aplicação para um público também específico em seu tempo e cultura.
Creio que o versículo de Colossenses, impresso para os diversos clientes dessa grande padaria, enfrenta o problema da generalização máxima, pois em uma cultura relativista, onde a moral e a ética são personalizadas, esse versículo pode ser interpretado como “tudo o que qualquer pessoa estiver fazendo, a despeito de qualquer contexto e moral, deve ser feito de todo coração”. Nessa generalização, uma pessoa pode dedicar-se a uma causa nobre de todo coração, assim como outra pode dedicar-se de coração à carreira, ignorando qualquer ética para ascender profissionalmente ou ainda outra pessoa pode dedicar-se com todo coração a ser um político corrupto.
Entretanto, quem conhece a carta sabe que Paulo passa longe dessa interpretação genérica. A carta é específica; aliás, a parte final do versículo que foi suprimida da parede revela toda especificidade: “… como para o Senhor e não para as pessoas”. Tudo deve ser feito diante de Jesus em uma relação entre Servo e Senhor, onde a moral e a ética são propriedade do Senhor e não do servo. O servo se dedica de coração a viver toda a amplitude de sua existência para o Senhor que é seu dono.
Para ser menos implicante e mais ponderado, como Kuruvilla sugere, entendo a ótima intenção dos donos da Padaria ao estampar sua fé bíblica na parede do estabelecimento e creio em Deus que esta ação possa levar muitas pessoas ao interesse genuíno pela Palavra de Deus, pois ela tem esse poder de atração. Porém, também peço a Deus que tanto os donos da padaria quanto os clientes possam conhecer a especificidade do Evangelho tão evidente nesse pequeno versículo da carta aos Colossenses que, hoje, é endereçada a nós, tripulantes desta geração relativista e ensimesmada:
”Tudo o que fizerem, façam de todo o coração, como para o Senhor e não para as pessoas, sabendo que receberão do Senhor a recompensa da herança. É a Cristo, o Senhor, que vocês estão servindo.” – Colossenses 3:23-24 NAA
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