– Papai, por que o tio não fala mais com a gente?
– Papai, por que a mamãe tá com dor?
– Por que a vovó morreu?
Por mais que eu estude o relato da criação e da queda no livro de Gênesis, a melhor interpretação que consigo fazer sobre essa narrativa é a interpretação etiológica. Aquela na qual uma criança se assentava de frente para uma fogueira com seu pai, ou uma criança se assenta, hoje, de frente para uma televisão, porém, nem o fascínio do fogo, nem dos desenhos animados conseguem entreter a criança a ponto de impedi-la de questionar seu pai sobre o porquê dos desatinos da vida.
As narrativas da criação e da queda funcionaram, ontem, para milhares de crianças e parecem funcionar até hoje, pois elas nos explicam o que poderíamos ter sido, porque não somos e, acima de tudo, porque conseguimos perceber o que nos falta. Porque conseguimos distinguir entre o bem e o mal, entre o belo e feio, entre o bom e o ruim. Porque, afinal, conseguimos não só existir, mas questionar nossa existência.
Questionamos porque provamos todos os dias o fruto do bem e do mal, enquanto avistamos de longe a árvore da vida no futuro do pretérito, pois poderíamos não ter sofrido, poderíamos não ter odiado, poderíamos não ter morrido. Como disse o sábio, temos dentro de nosso peito esse anseio pela bela eternidade e essa demanda pelo amor verdadeiro que existe como projeção no futuro, de um lugar no jardim do passado.
O anseio que nos faz questionar, mas não nos impede de sofrer, de odiar e de morrer, assim como não nos capacita para cuidar e amar como deveríamos, porque estamos caídos neste lugar nenhum. Caídos que olham para cima, caídos que anseiam estar de pé para subir em outro pé, para colher de outro fruto do qual fomos privados. Vivemos, assim, entre duas árvores. Uma que temos, mas já nos fartamos e essa outra que avistamos, mas não alcançamos.
Entretanto, de frente para a fogueira ou a televisão, o pai pode contar ao seu filho outra história, sobre um jardineiro que veio até nós para plantar outra árvore. Árvore que começou pequena, mas foi crescendo e se tornou a mais linda e frondosa, onde pássaros de todas as espécies podem fazer seus ninhos. Árvore que nos permite não só ansiar, mas também esperançar este futuro do pretérito que não sai de nossas mentes e corações. Árvore que talvez não nos dê todas as respostas, mas nos dá o seu fruto, nos dá um lugar e nos dá um propósito.
‘Então Jesus disse: “Com que se parece o reino de Deus? Com o que posso compará-lo? É como a semente de mostarda que alguém plantou na horta. Ela cresce e se torna uma árvore, e os pássaros fazem ninhos em seus galhos”. ‘ – Lucas 13:18-19
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Lucas:
Gostei do texto, mas achei muito hermético!
Acho que não entendi tudo o que voce gostaria de dizer!
Gostaria de conversar com voce sobre essas duas árvores…
Eli