O Ministério a partir da fraqueza

Iniciei os estudos no Seminário em um clima de assombro, entusiasmo e dúvida. Chamadas, leituras, ementas e conteúdos programáticos voavam como abelhas zumbindo sobre a minha cabeça. Neste turbilhão de adaptação, tive o privilégio de encontrar entre os conteúdos programáticos, um pequeno livro do meu querido autor Henri Nouwen que sempre falou ao meu coração. Foi um oásis que trouxe paz ao meu coração e, acima de tudo, reafirmou o ETHOS, o tom que almejo para o meu ministério como pastor. Fiz questão de deixar registrado aqui no meu blog um pouco desta maravilha de texto:

Se há alguma frase no Evangelho que expressa de uma forma muito concentrada tudo o que eu tentei dizer nos cinco capítulos deste livro, é aquela dita por Jesus aos seus apóstolos no dia antes de sua morte: “Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a sua vida pelos seus amigos” (João 15.3)

Para mim estas palavras resumem o sentido de todo ministério cristão. Se o ensino, a pregação, o cuidado pastoral individual, a organização e a celebração são atos de serviço que vão além do nível da expertise profissional, é precisamente por causa desses atos que os ministros são chamados a dar suas vidas por seus amigos. Há muitas pessoas que por meio de um longo treinamento atingiram um alto nível de competência em termos de compreensão do comportamento humano, mas há poucos que estão desejosos de dar suas vidas por outros e fazer de sua fraqueza uma fonte de criatividade. Para muitos indivíduos, treinamento profissional significa poder. Porém, ministros que tiram suas vestes para lavar os pés de seus amigos, são impotentes, e seu treinamento e formação têm o objetivo de torná-los capazes de enfrentar suas próprias fraquezas sem medo e tornarem-se disponíveis para outros. É exatamente essa fraqueza criativa que dá ao ministério seu impulso.

O ensino torna-se ministério quando os professores se movem para além da transferência de conhecimento e estão desejosos de oferecer sua experiência de vida aos seus alunos de modo que a ansiedade paralisante possa ser eliminada e um novo insight libertador pode surgir. A pregação torna-se ministério quando os pregadores vão além de “contar uma história” e permitem que sua mais profunda intimidade interior esteja disponível aos seus ouvintes para que possam receber a Palavra de Deus. O cuidado individual torna-se ministério quando aqueles que desejam ajudar vão além do equilíbrio cuidadoso de dar e receber com um desejo de arriscar suas próprias vidas e permanecer fiéis ao sofrimento de irmãos e irmãs, mesmo quando isto coloca em risco seu próprio nome e reputação. Organização torna-se ministério quando os organizadores se movem para além de seu desejo por resultados concretos e olham para o mundo com uma firme esperança de uma total renovação. E celebração torna-se ministério quando os celebrantes vão além dos limites dos rituais protecionistas para uma aceitação obediente da vida como uma dádiva.

Embora nenhuma dessas tarefas de serviço possa jamais ser cumprida sem preparação cuidadosa e competência provada, nada disso pode ser chamado ministério quando esta competência não é firmada no compromisso radical de dar sua própria vida a serviço de outros. Ministério significa uma tentativa constante de por sua própria busca por Deus, com todos os momentos de dor e alegria, desespero e esperança, à disposição daqueles que querem se juntar a esta busca, mas não sabem como fazê-lo. Por isso, ministério de modo algum é um privilégio. Ao contrário, é o âmago da vida cristã. Nenhum cristão é um cristão sem ser um ministro.

(…)

Mas por que dar sua vida pelos amigos? Há apenas uma resposta para esta pergunta: dar uma nova vida. Todas as funções do ministério são vivificantes. Não importa se a pessoa ensina, prega, aconselha, planeja ou celebra, o objetivo é sempre abrir novas perspectivas, oferecer uma nova abordagem, dar nova força, romper as cadeias da morte e destruição, e criar uma nova vida que pode ser confirmada. Em resumo, fazer com que a própria fraqueza se torne criativa. Assim, se um homem quer ser um ministro, deixe-o fazer de sua própria fraqueza seu orgulho de modo que o poder de Cristo esteja sobre ele… porque quando ele é fraco, então ele é forte (cf. Paulo em 2 Coríntios 12.9-10).

(…)

Pode ser extremamente difícil para nós na era moderna nos sentirmos próximos de Jesus de Nazaré, que viveu em outro mundo; pode ser ainda mais difícil olhar adiante para o dia de sua volta; mas mais do que tudo pode ser possível experimentarmos o Espírito de Cristo como um Espírito vivo que torna possível romper as fronteiras de nossa existência aprisionada e nos fazer livres para trabalhar por um novo mundo. Mas este caminho da experiência transcendental é um caminho que exige ministério. Chama homens e mulheres que se afastam assustados da preparação cuidadosa, sólida formação e treinamento qualificado, mas que ao mesmo tempo são livres o bastante para romper as fronteiras das disciplinas e especialidades na convicção que o Espírito se move além da capacidade profissional. Chama cristãos que estejam desejosos de desenvolver sua sensibilidade à presença de Deus em suas vidas, tanto quanto nas vidas dos outros, e a oferecer suas experiências como uma forma de reconhecimento e liberação dos outros seres humanos. Chama por ministros no sentido verdadeiro, que dão suas próprias vidas por seus amigos, ajudando-os a distinguir entre os espíritos construtivos e destrutivos e torná-los livres para a descoberta do Espírito de Deus – doador da vida no meio deste mundo louco. Chama por fraqueza criativa.”

Texto de Henry Nouwen no Livro Ministério Criativo – Editora Palavra 2008


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